Thursday, July 15, 2010

Corrida ao consumo

Atravessamos uma crise económica (e não só) que resulta da confluência de várias forças. A meu ver, uma dessas forças é a corrida ao consumo que começou no início dos anos 90 e abrangeu de forma mais ou menos transversal a população.

Tal como numa corrida às armas, a corrida ao consumo é fácil de racionalizar por qualquer um de nós. Nas armas, dizemos que "não queremos atacar ninguém, só queremos ter forma de nos defendermos". No consumo, dizemos que "eu não quero ser mais do ninguém, mas também não quero ser menos".

É assim, de forma paulatina, que os portugueses passaram a querer ter casa nova, carro novo de cilindrada elevada, o LCD novo, realizar uma ou mais viagens por ano, jantar fora, etc.

Para termos todas essas coisas agora, em vez de mais tarde, tivemos que esgotar as nossas poupanças ou endividarmo-nos até às orelhas. Mesmo os ganham relativamente bem (p.e. acima de 1.500€ limpos por mês) andam apertados, porque as dívidas levam a fatia de leão do rendimento.

Podíamos chegar à conclusão que viver assim não é viver, mas não queremos ser menos do que os outros. Enquanto não houver gente a ser forçada pelas circunstância "a ser menos do que é" (ou julga ser), dificilmente haverá um movimento significativo de mudança de mentalidade e abrandará a corrida ao consumo.

Não gostamos de ser menos, de perder. Mas parece que também se perde, e muito, quando queremos ganhar ou simplesmente não queremos perder. Perdemos a nossa liberdade, amarrados em dívidas e gestão de imagens de aparente sucesso perante terceiros.

Se há coisa que peço à Providência, é que me ensine a saber ser menos e a perder... Para poder verdadeiramente ganhar a minha liberdade.

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